Jardim

Vim até ao jardim para respirar e espairecer um pouco.
Vi um vampiro aterrar na varanda do quarto da Sarah.

-Chi... Mais gente para se juntar à festa... mas que seca!!!

Saltei para a varanda do quarto.

Saltei o muro.
Senti o cheiro de vampiros e...de humanos.
Olhei para cima...Estava alguém naquela varanda.
Subi até uma arvóre e tentei ganhar balanço.

Cheguei com a Sarah...
O jardim era um espaço um pouco vazio...
Desde que a Jun morrera ninguém tinha tratado dele.

-Eu sei... Está vazio mas é que nunca mais ninguém veio tratar dele.

Olhei para ela...

-Queres tratar do jardim?

Perguntei com os olhos a brilhar.

-Quero dizer... Quando o pé melhorar claro! O que me dizes?

Olhei para o jardim, era sim um local vazia e quase sem cor. Era muito monotono,
aproximei-me de uma arvore, parecia seca e sem vida, apesar de ter folhas verdes
nos seus ramos.

-Sim...eu trato dele...

Disse olhando para o Kento, ela parecia que ia ficar feliz com isso. E tambem seria
uma distracção para mim. Pus a minha mao sobre o tronco da arvore.

-Ele precisa de carinho e amor, se eu conseguir transmitir-lhe isso concerteza que
para o ano por esta altura ele estará cheio de flores! Como na Primavera em Londres!

Disse, fazendo um sorriso um pouco triste. Londres...ainda só passou um dia e eu
já tinha saudades. Se calhar nao devia de ter saido de lá...

Ela falava como a Jun tinha falado quando viu o jardim pela primeira vez... Lembro-me da sua confiança e força de trabalho.
O tempo e o trabalho que ela tinha investido naquele jardim.
A verdade é que desde que ela tinha morrido raramente eu ia ao jardim e não tratava dele...
Pensei nunca conseguir superar a sua perda mas acho que depois de conhecer a Sarah tudo isso mudará.
Sorri.

-Hai... Boa sorte.

Sentei-me no único banco que havia no jardim.

-Contaste-me que neváva muito em Inglaterra... Quais são as principais diferenças entre o Japão e a Inglaterra?

Ajoeilhei-me no chao e começei a arrancar algumas ervas daninhas. Ouvi a pergunta
do Kento. Continuei o meu trabalho.

-Acho que nao á assim muitas, só que as pessoas lá, nao se importam muito com
os outros, raramente se reunem...só nas festas.

Começei a ficar com as maos sujas, mas nao importava. Estava a gostar de tratar
do jardim.

-Eu sinto que aqui no Japão, as pessoas são mais acolhedoras...

Olhei o ceu azul.

-Eu não gosto muito dos humanos... Não estou a falar de ti... Mas nos humanos em geral...

Depois ri e olhei para ela...
A imagem da Jun a tratar do jardim permanecia na minha mente.

-Quero dizer... Acho-vos curiosos mas... Porque é que vocês se matam uns aos outros... E por que é que se matam uns pelos outros?

Dei mais uma gargalhada.

-Tu percebes o que eu quero dizer...

-Inveja, odio, traição, cobiça...

Parei de arrancar ervas daninhas, suspirei. Os humanos matavam-se sim uns aos
outros. Por causa de sentimentos como estes.

-Okaa-san...ela, foi obrigada a casar com alguem de quem nao gostava, eu surgi desse
relacionamento. Eu sou odiada por ela...

Levantei-me, tinha as maos sujas. Olhei para elas.

-Okaa-san já me tentou matar imensas vezes. Por eu ser filha do homem que ela mais
odeia-a...e tambem sou a coisa mais precioso para esse homem...otou-san é uma pessoa
pura e sincera. A okaa-san é que nao consegue ver isso...

Olhei para ela.
Apoiei o meu cotovelo na perna e a minha cabeça na mão.
Revirei os olhos.

-Estás a ver o que eu dizia?

Bufei.

-Eu nunca tive esse problema com os meus pais... Eu tinha o problema inverso... Eles gostam de mais de mim... Os meus pais são uma seca...

Percebi que estava a ser inconveniente.

-Quero dizer... Eu lamento... Mas nós não podemos escolher em que família nascer...

Olhei para ele e fiz um sorriso fraco. Uma lagrima escorreu pelo meu rosto, baixei
a cabeça. Ele tinha sorte, teve uma familia normal...eu nao...

-Tiveste bastante sorte...

Olhei outra vez para o jardim e ajoelhei-me de novo. Começei a arrancar de novo
ervas daninhas.

Senti-me culpado por a ter feito sentir-se mal...
Levantei-me e fui até ela.
Baixei-me e comecei também eu a arrancar ervas daninhas.

-Não penses mais nisso agora...

Beijei a sua testa e virei-me outra vez para as ervas daninhas.

-Toca a trabalhar!

Comecei novamente a tirar ervas daninhas.

Corei um pouco, mas continuei a arrancar as ervas daninhas. Eu vou ter que me
esforçar...

-Sim, toca a trabalhar!

Levantei-me, havia bastante silvas. Olhei para o Kento.

-Sabes se á algum armazem com ferramentas de jardinagem? Pois preciso de uma
luvas, baldes e uma tesoura de poda...

Armazem...
A Jun é que tratava disso...

-Não sei... A Jun é que comprava os materiais e assim... Eu limitava-me a ver.

Cocei a cabeça.

-Pergunta à Yue... pode ser que ela saiba...

Abri lentamente a porta, fechando da mesma maneira.
Dei uns quantos passos em frente.
Tinha a cabeça baixa, esfregando os meus olhos...

- Ohayou...

-Hum...

Ouvi um "Ohayou", era a Yue. Virei-me para ela.

-Yue-san, sabe se existe algum sitio onde tenha ferramentas de jardinagem aqui?

O Kento estava novamente a falar na Jun, senti um aperto no coração. Nao sei
porque, mas sentia-o.

Olhei para Sarah.
Pus a mão na bochecha.

- Que me lembro não...Mas eu vou agora ao Hospital, pode ser que veja algum sitío.

Disse, sorrindo-lhe.
Abri as minhas asas negras...Fiz balanço e levantei vôo.

-Ela puxou a minha bochecha ._.

Virei-me, ia procurar por mim propria, suspirei. Começei a andar á procura, até que
encontrei uma pequena casa, estava coberta com algumas heras. Era bonita.

-Que coisa mais bonita... o.o

Aproximei-me da porta e abri-a, sairam de lá alguns morcegos. Perdi o equilibrio e
cai para tras.

-Kyaaa!

Arrepiei-me, eu odiava morcegas. Brr.

Vi a Sarah afastar-se...
Parece que as pilhas nunca lhe acabam.
Fui atrás dela.
Vi um enxame de morcegos voar contra mim.
Ela estava assustada...
Ri-me da cara dela.

-Devias ter visto a tua cara!!

Disse apontando.
Olhei para a casa.

-Acho que nunca ai entrei...

Murmurei para comigo.

Tirei as maos da cabeça e olhei chateada para o Kento.

-Cala-te vampiro idiota!

Levantei-me, entrei dentro da pequena cabana. Era sim onde estavam guardadas
as ferramentas. As janelas estavam um pouco danificadas, com alguns vidros partidos
e o pó tinha-se apoderado do interior.

-O que é isto...?

Passei a minha mao, o pó saiu. Tossi um pouco, era uma especie de album. Abri-o, os meus
olhos abriram-se de espanto. Era um album com fotos do Kento e de uma rapariga, concerteza
a Jun, de quem ele tanto falava.

Entrei dentro da cabana atrás dela.
Olhei para o interior e lembrei-me.

-É aqui que a Jun guardava as ferramentas e passava quase a tarde toda...

Ri-me.
Vi a Sarah ver um album com fotos.
Fui até ela e olhei para o livro.

-Eto...

Vi as fotos.

-É a Jun... Estava aqui dentro isso?

Olhei para o Kento e depois para o albúm, vi a foto da rapariga. Ela relamente era
bonita, fechei o album e peguei nele.

-Toma...

Disse, encostando-o ao peito de Kento. Baixei a cabeça, o meu cabelo tapava os
meus olhos.

-Deves querer ficar com ele...

Virei-me e começei á procura das ferramentas que precisava, encontrei as luvas, o
balde e a tesoura de poda. Sai da cabana, por assim dizer sem dirigir o olhar ou
a palavra ao Kento.

Agarrei o album um pouco confuso.

-Arigatô.

Saí da casa atrás dela.

-Vou arrumar isto lá dentro.

Gritei para que ela me ouvisse.
Entrei em casa e fui até ao meu quarto.

Calçei as luvas e peguei na tesoura de poda, começei a cortar as silvas e a po-las
num monte. Aquelas fotografias e o album nao me saiam da cabeça, o Kento estava
a sorrir nelas, verdadeiramente.

-É melhor esquecer...

No meio das silvas encontrei alguns objectos que fui pondo aos pés de uma arvore,
havia vasos, pequenos objectos de decoração e alguns anões de jardim.

- u.ú Malditas silvas...

Disse, ao reparar nos meus braços arranhados pelos os seus espinhos. Lambi o sangue
que me escorri pelo braço. Deitei a lingua de fora.

-Nem sei como se conseguem alimentar de sangue...

Acabei de cortar as silvas e o meu estomago roncou. Tinha de ir comer, arrumei as coisas
num canto e fui para a cozinha.

Aterrei, espreguiçei-me um pouco.
Olhei em volta.
Vi a Sarah...o Kento não estava, deve ter ido para a cozinha ou assim.
Acenei a Sarah e fui em direcção ao quarto secundário.